Sentir dor nos joelhos é um dos
problemas mais comuns entre corredores. Os motivos variam, mas
geralmente estão ligados à biomecânica da corrida, ou seja, à maneira
como a pessoa desenvolve as passadas. Uma nova pesquisa, conduzida por
cientistas da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, e publicada no
periódico científico Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, aponta
que aumentar a velocidade na hora dos treinos e provas pode ajudar a
evitar a disfunção femoropatelar (DFP), ou dor anterior do joelho.
Segundo o estudo, quando a corrida é realizada de maneira mais lenta,
atletas que aterrissam com o calcanhar tendem a aumentar a carga na
parte frontal do joelho.
Na pesquisa, os cientistas recrutaram 16 corredores com a
característica de colocar primeiro a parte de trás do pé no chão durante
a corrida. Todos eles tinham um recorde pessoal nos 5 km de menos de 17
minutos. No teste, eles precisaram correr 1.000 metros em uma pista em
três diferentes velocidades: 8 km/h, 11,8 km/h e 15,8 km/h. O local
contava com plataformas de força para medir a intensidade das passadas
dos atletas. Os cientistas comprovaram que a velocidade influenciava
negativamente no impacto da corrida. Entretanto, em um pace mais lento,
os corredores precisaram dar mais passos para completar os mesmos 1.000
metros. Com isso, acumularam 80% mais carga na parte frontal dos joelhos
nessa segunda situação. “A biomecânica da corrida está relacionada
diretamente às lesões nos membros inferiores dos corredores, sejam eles
de velocidade, sejam de longas distâncias”, afirma o ortopedista Carlos
Andreoli, sócio-proprietário do Instituto do Atleta (INA), em São Paulo.
De acordo com o especialista, a dor anterior no joelho pode ser
evitada com o ajuste na biomecânica da corrida, que deve ser feito com o
acompanhamento de um treinador ou educador físico. “As mulheres
apresentam uma frequência de três a seis vezes maior de dor anterior do
joelho, devido a biomecânica da corrida, valgo dinâmico (projeção dos
joelhos para dentro), pelve mais larga e desequilíbrios musculares”,
lembra Andreoli.
Além da maneira como o atleta realiza cada pisada, o ortopedista
conta que outros fatores devem ser corrigidos, como o equilíbrio e o
alongamento muscular dos membros inferiores – principalmente dos
glúteos. “O valgo dinâmico precisa ser corrigido com exercícios de
prevenção. O tipo de pisada (pronada, neutra ou supinada) também precisa
ser acertada com a utilização de tênis adequado e, se necessário,
palmilhas.”
O que é a disfunção femoropatelar (DFP)?
“É uma lesão associada a alterações biomecânicas de funcionamento da
pelve, da coluna lombar, do quadril, do joelho e do pé”, define Leonardo
Pires, coordenador do departamento de fisioterapia do Clube Sírio, em
São Paulo, e sócio do INA. “Ela está associada a dores que acometem a
região anterior do joelho, podendo estar relacionado com outras
patologias, como condromalácia patelar, tendinopatia patelar e
tendinopatia quadriceptal.”
O principal sintoma da DFP, além da dor, é a crepitação (estalidos)
nos joelhos durante a corrida, ao subir e descer escadas, agachar ou
levantar após um período muito longo na posição sentada. As causas
intrínsecas são as alterações no alinhamento ósseo dos joelhos,
variações na anatomia da tróclea (encaixe da patela no fêmur), colo do
fêmur e patela, tipo de pisada e déficits de flexibilidade muscular. Já
as extrínsecas são calçados inadequados, aumento abrupto da carga ou
volume de treinamento – principalmente associado à elevação e pisos de
maior impacto –, falta de treino para o desenvolvimento e equilíbrio
muscular – sobretudo dos glúteos e quadríceps – e erros durante a
execução dos exercícios de força. “Uma vez identificado o problema, é
necessário encontrar alternativas para corrigir a biomecânica do
esportista, melhorando a congruência articular e proporcionando maior
vida útil a todas as estruturas envolvidas”, comenta o fisioterapeuta.
O tratamento consiste, em primeiro lugar, em identificar e corrigir
possíveis causas relacionadas a erros de treinamento. “Controlar a dor e
o processo inflamatório por meio de eletrotermofototerapia (aparelho
que usa estimulação elétrica, calor e luz), bandagens funcionais,
crioterapia e terapia manual é o segundo passo”, diz Leonardo. Em
seguida, é preciso ajustar possíveis alterações biomecânicas
relacionadas a fraqueza ou desequilíbrio muscular e ao tipo de pisada.
Nesse momento, devem-se preparar todos os grupos musculares já citados
com o objetivo de correção do valgo dinâmico. Por último, ocorre a volta
gradual do atleta aos treinamentos e competições.
A melhor forma de prevenir o problema é procurando ajuda profissional
antes de dar início aos treinos. “Antes da corrida, é importante
realizar um bom aquecimento. Além disso, inclua exercícios de força e
funcionais para a melhorar a corrida”, completa Leonardo.
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