Os pesquisadores especulam que o sistema imunológico dos atletas foi fortalecido e ajustado pela demanda física diária e pelo dano do treinamento, permitindo que respondessem de forma eficaz à vacina
Se você é atleta, pode obter uma imunidade maior com a vacina contra a gripe do que pessoas menos ativas, de acordo com dois novos estudos complementares e oportunos sobre exercícios e vacinação. Os dois trabalhos, que envolveram o mesmo grupo de corredores de elite, nadadores, lutadores, ciclistas e outros atletas, sugerem que o treinamento intenso amplifica nossa resposta à vacina, um achado de especial relevância agora que a temporada de gripe se aproxima e os cientistas trabalham para desenvolver uma imunização contra a Covid-19.
Ter um sistema imunológico preparado para combater infecções e responder fortemente às vacinas é obviamente desejável neste momento em que há uma pandemia em curso. E, em geral, o exercício ajuda a imunidade, mostra a maioria das pesquisas. Pessoas que se exercitam com frequência ou moderadamente tendem a contrair menos resfriados e outros vírus do que pessoas sedentárias. Em curto prazo, se você exercitar o braço nas horas anteriores à aplicação da vacina, provavelmente desenvolverá uma resposta de anticorpos mais forte do que se descansá-lo, indicam alguns estudos menores.
Mas também há sugestões de que, em certas circunstâncias, os exercícios podem diminuir a resposta imunológica. Algumas pesquisas epidemiológicas e a história pessoal de alguns atletas sugerem que exercícios intensos e exaustivos podem ser prejudiciais à imunidade em curto prazo. Os maratonistas, por exemplo, relatam que contraíram resfriados em taxas desproporcionalmente altas depois de uma corrida, embora alguns fisiologistas suspeitem que esses problemas respiratórios pós-corrida sejam inflamatórios, não infecciosos.
O resultado, porém, é que muitas perguntas permanecem sem resposta sobre se e como os exercícios intensos afetam a imunidade e a capacidade do nosso corpo de responder favoravelmente a uma vacina, como aquela contra a gripe sazonal.
ssim, para os novos estudos, os cientistas da Universidade do Sarre, na Alemanha, e de outras instituições decidiram convencer um grande grupo de atletas profissionais a se vacinar, um esforço mais difícil do que a maioria de nós poderia imaginar. Em pesquisas, atletas de elite tendem a relatar taxas relativamente baixas de vacinação contra a gripe e outras doenças, pois muitos temem que possíveis efeitos colaterais possam afetar o treinamento.
Mas os pesquisadores conseguiram recrutar 45 jovens atletas de elite e em boa forma, homens e mulheres. Seus esportes variavam de provas de resistência, como a maratona, a esportes de força, incluindo a luta livre e o lançamento de martelo, ou esportes coletivos, como o basquete e o badminton. Todos os voluntários estavam no meio de sua temporada competitiva durante os estudos.
Para o primeiro dos dois experimentos envolvendo esses atletas, que foi publicado em janeiro no jornal "Brain, Behavior, and Immunity", os pesquisadores esperavam estabelecer se o fato de ser um atleta e ter uma forma física descomunal atrapalharia ou impediria a reação imunológica dos jovens a uma vacina da gripe. Em seguida, os cientistas também recrutaram 25 jovens saudáveis, mas não atletas, para servir de grupo de controle. Os pesquisadores coletaram sangue de todos.
Depois disso, todos os jovens receberam a vacina contra a gripe e registraram qualquer efeito colateral que sentiram, como dor no braço. Os grupos voltaram ao laboratório para coleta de sangue e acompanhamento uma semana, duas semanas e seis meses depois da vacinação. Em seguida, os pesquisadores analisaram o sangue em busca de células imunológicas e anticorpos para o vírus influenza.
Eles encontraram um número significativamente maior dessas células no sangue dos atletas, especialmente na semana depois da injeção, quando as reações celulares de todos atingiram o pico. Os atletas mostraram uma "resposta imunológica mais forte", com provavelmente melhor proteção contra a infecção da gripe do que os outros jovens, disse Martina Sester, imunologista da Universidade do Sarre e coautora do estudo.
Os pesquisadores especulam que o sistema imunológico dos atletas foi fortalecido e ajustado pela demanda física diária e pelo dano do treinamento, permitindo que respondessem de forma eficaz à vacina.
Mas os resultados, embora notáveis, não avaliaram os efeitos agudos do exercício e se um único treino intenso pode alterar as reações do corpo a uma vacina, para melhor ou pior. Assim, para o segundo dos novos estudos, que foi publicado em julho na "Medicine & Science in Sports & Exercise", os cientistas voltaram aos mesmos dados, mas agora se concentraram apenas na reação imunológica dos atletas.
Eles compararam o número de células do sistema imunológico e os anticorpos nos atletas que receberam a vacina contra a gripe duas horas depois da sessão de treinamento mais recente com o dos atletas cuja injeção foi aplicada um dia depois do último treino. Se o treinamento intenso atenuasse a reação imunológica, então seria de esperar que o primeiro grupo de atletas apresentasse um número menor de novas células imunológicas do que aqueles que haviam recebido a injeção depois de um descanso mais longo.
Mas os pesquisadores não encontraram diferenças. Mesmo que os atletas tenham sido vacinados quase imediatamente depois do treinamento, ou um dia depois, sua reação imunológica foi a mesma. Um treino extenuante de antemão não reduziu – ou aumentou – a resposta. Em conjunto, os dois estudos revelam que estar em forma pode aumentar nossa proteção quando vacinados, não importa quão intensamente ou quando nos exercitamos antes da vacina, explicou Sester.
Naturalmente, esses estudos se concentraram em atletas de elite e de competição, o que a maioria de nós não é. Mas Sester acredita que até mesmo atletas recreativos provavelmente terão melhor resposta à vacina contra a gripe do que pessoas sedentárias. Da mesma forma, ela e seus colegas esperam que a alta aptidão melhore a resposta imunológica a outras vacinas, incluindo, potencialmente, uma contra a Covid-19.
"Os princípios básicos da resposta à vacina são provavelmente os mesmos", concluiu Sester. No entanto, estudos futuros terão de confirmar essa possibilidade se e quando uma vacina estiver disponível.
fonte: The New York Times Licensing Group –https://www.nsctotal.com.br
anta Catarina
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