Matéria extraída na revista contra relógio edição 185, escrita por Tomaz Lourenço atleta que já correu dezenas de maratonas e meias, mais de uma centena de provas com menor distância, além de algumas ultras, de 50 a 89 km. Um corredor experiente, já tendo presenciado situações das mais diversas nas corridas, entre elas muitos erros de corredores, especialmente os mais novatos, mas também de gente bastante “rodada”.
ANTES:
1) NÃO PROCURAR SE INFORMAR SOBRE A
CORRIDA. Ao contrário de anos atrás, quando se ia para uma
prova sem muitas informações, e as surpresas aconteciam, atualmente o corredor
tem facilidade para saber sobre os eventos, através de publicações e pelos
inúmeros sites voltados ao segmento. A CR procura cumprir esse papel e está
sempre disponível para esclarecer dúvidas sobre provas não apenas no Brasil,
como também do exterior.
2) NÃO DESCANSAR O SUFICIENTE NA
SEMANA. Apesar de existir toda uma teoria sobre
treinamento, envolvendo várias fases de preparação, na prática sabe-se que a
maioria dos corredores não realiza um planejamento de médio e longo prazo, com
exceção, talvez, quando se tem em vista uma maratona ou um evento semelhante.
Dessa forma, se a prova é de 10 km ou uma meia-maratona, o que se faz é
realizar treinos mais rápidos e mais curtos ou um pouco mais longos e não tão
fortes, para essas duas situações citadas como exemplo. Não é nada
"científica" tal preparação, mas é corriqueira, porque acaba
funcionando de alguma forma. Só que muitos costumam manter ou até intensificar
os treinos na semana da prova, para não perder condicionamento, o que
geralmente é um erro, pois se vai chegar na competição não devidamente
descansado. Uma regra que os mais experientes logo constatam é a seguinte:
treinos excelentes durante a semana, prova ruim no fim de semana. Portanto,
para a próxima competição, opte por fazer a última semana leve, mesmo porque
está provado que não se perde condicionamento em alguns poucos dias de
descanso.
3) FAZER UM CAFÉ DA MANHÃ DIFERENTE
DO HABITUAL. Esta recomendação está em todos os
lugares e já é um lugar comum. Mas ao contrário de outras que vem sendo
contestadas ou colocadas em dúvida (pela Contra-Relógio), como a necessidade de
alongamento imediatamente antes de começar a correr ou a recomendação para se
beber um copo d´água a cada 20 minutos, esta continua valendo e deve ser
seguida, para que não se tenha surpresa antes da largada ou durante a prova.
Com o agravante que banheiros costumam estar sempre cheios na área da
concentração e raramente são encontrados no percurso...
4) USAR ROUPA OU TÊNIS NOVO. Outro
alerta que se lê em todos os sites, revistas etc, mas curiosamente não costuma
ser levado em conta por grande parte dos corredores, seja porque o desejo de
estrear algo novo bate mais forte, ou porque não se considera tal recomendação
como muito importante. É verdade que hoje em dia a vestimenta para a prática da
corrida é algo especializado para dar o maior conforto possível ao esportista, assim como os tênis parecem que já vem
"pré-amaciados", tal a qualidade que apresentam. Mas, mesmo assim,
não vale a pena correr o risco de sofrer um incômodo durante a prova, por conta
da roupa ou do calçado, recomendação válida especialmente para as mais longas,
onde o problema tem mais chance de aparecer.
5) IR PARA A PROVA, COM POUCA
ANTECEDÊNCIA E NÃO SABENDO PRECISAMENTE O LOCAL.
Em várias cidades os participantes já conhecem bem onde as corridas costumam
acontecer, mas não se pode esquecer que mudanças de trânsito, até por conta do
evento, são sempre possíveis de ocorrer, daí este alerta, que merece especial
atenção quando se trata de provas em outras cidades. Só quem já chegou atrasado
para uma largada sabe o quanto é desagradável. Efetivamente, não é uma
experiência que valha a pena passar.
6) NÃO PASSAR VASELINA. OUTRA
RECOMENDAÇÃO CONHECIDA E MUITAS VEZES ESQUECIDA. Ela
é indicada notadamente para os dias mais frios, para os corredores mais pesados
e quando da participação em percursos longos. Além dos mamilos, sugere-se
passar vaselina também entre coxas e na parte genital. Alguns gostam de usar o
produto nos pés, igualmente para evitar assaduras, mas é necessário atenção
para não exagerar, para que os pés não fiquem "dançando" na
meia/tênis.
7) ALONGAR POR MUITO TEMPO.
Este hábito já está arraigado entre inúmeros corredores, ainda mais que várias
são as provas que fazem uma seção de alongamento pouco antes do tiro de
largada. Como a revista mostrou em edições anteriores, esse
"puxa-estica" imediatamente antes de começar a correr não traz
qualquer ajuda (para evitar lesões ou para correr melhor) e pode até prejudicar
a performance. O indicado é que se faça um simples aquecimento, através de
trote, ou que se comece sem forçar, para ir acostumando a musculatura.
8) FICAR BEBENDO BASTANTE LÍQUIDO
ANTES DA LARGADA. Da mesma forma que os alongamentos
antes do começo de uma corrida, a falta do que fazer leva muita gente a ocupar
o tempo ingerindo líquidos, para começar a prova "bem hidratado". O
problema é que as pessoas exageram, e o resultado é a necessidade de parar no
percurso, mesmo que a distância seja de apenas 10 km, para urinar. Antigamente
acontecia de algumas corridas não garantirem um bom abastecimento durante o
trajeto, mas agora o que se vê é até o contrário, com inúmeros postos de água e
isotônico, daí não ter muito sentido essa preocupação com a hidratação prévia.
9) ESQUECER DE AMARRAR FIRME O TÊNIS.
Naturalmente que todo mundo sabe da importância de amarrar bem o tênis, ainda
mais que se precisa prender o chip. Acontece que mesmo quando essa operação é
feita com cuidado, os cadarços podem se soltar durante a competição,
atrapalhando o corredor e o fazendo perder algum tempo. Isto acontece
especialmente quando está chovendo ou quando se transpira muito (ou se joga
bastante água no corpo), fazendo com que os cadarços se amoleçam e soltem. A
solução é muito simples: basta dar um nó no cadarço, após o laço. Também existe
um dispositivo para prender firme o laço, enquanto alguns preferem colocar para
dentro do tênis os cadarços.
10) SE POSICIONAR O MAIS NA FRENTE
POSSÍVEL. É lógico que todo mundo quer sair perto da linha
de largada, para não perder tempo no momento em que o congestionamento é maior,
como acontece cada vez mais em nossas corridas, especialmente as nas grandes
cidades. Só que esse empenho para se posicionar na frente acaba sendo pouco
producente e até perigoso, a não ser que você seja efetivamente um corredor
rápido. O tempo que se perde nas largadas costuma ser inexpressivo e, além
disso, as provas costumam considerar os tempos líquidos, contados apenas a
partir do momento em que a pessoa passa pelo tapete da largada. E a saída entre
os mais rápidos, pode acarretar uma queda e muito provavelmente alguns
xingamentos ou empurrões, por estar atrapalhando os demais.
DURANTE
1) COMEÇAR A PROVA MUITO FORTE. Este
aspecto por vezes está relacionado ao 10º quesito da primeira parte da matéria,
ou seja, muita gente larga em ritmo acelerado por ter se posicionado na frente
e, com medo de ser atropelado, faz os primeiros metros "voando", mas
logo cansa. Mesmo para quem corre em bom ritmo, mas não é um atleta de elite, o
recomendável é sair sem forçar demais, achando sua velocidade ideal logo depois
e até guardando um pouco para a parte final da competição, para uma chegada triunfante.
2) ESTABELECER UM DETERMINADO RITMO
RÍGIDO. Conversa comum antes de largadas é sobre o ritmo
que cada um pretende fazer. É algo até razoável tal previsão ou aspiração, mas
ela precisa ser devidamente considerada, para não acabar prejudicando o
resultado final do corredor, para mais ou para menos. Vamos explicar! Ao se
entrar numa prova com o objetivo de fazê-la em tantos minutos por quilômetro,
checando no relógio cada passagem de km, acaba se ficando escravo do ritmo, mas
pode-se estar num dia ruim (cansado por alguma razão) ou a prova não estar
oferecendo boas condições pelo percurso ruim ou alta temperatura. Dessa forma,
não será possível cumprir o ritmo almejado e assim deve-se encarar a situação,
correndo-se na velocidade "possível" naquele dia. O contrário também
acontece, ou seja, começa-se a prova em determinado ritmo, mas se constata que
está sobrando energia (pelas razões inversas anteriormente apresentadas) e
então é o caso de esquecer o tempo previsto (e as recomendações do treinador) e
correr como o corpo está aceitando e pedindo no momento, quem sabe até para
conseguir o recorde pessoal na distância.
3) ERROS AO PEGAR E TOMAR ÁGUA. A
questão do abastecimento parece algo simples e efetivamente é, mas os
iniciantes por vezes se atrapalham. A começar pela procura logo da primeira
bancada de água, sempre a mais congestionada, quando normalmente muitas outras
estão pela frente. E depois de pegar o copo a recomendação é se afastar do
local, para facilitar para os outros e não se chocar com os mais (ou tão)
afoitos. Outra recomendação é quanto à forma de beber a água do copo. Muitos
ainda abrem completamente o lacre e ao tentarem beber, além de desperdiçarem
boa parte, acabam se engasgando. O correto é fazer um furo na tampa, com o
dedo, e ir tomando de golinhos. E nem precisa tomar tudo, podendo o restante
ser jogado na cabeça, para refrescar.
4) FICAR CORRENDO EM ZIGUE-ZAGUE.
Esta recomendação é óbvia, uma vez que qualquer pessoa sabe que o mais lógico é
o corredor não sair de seu caminho, desviando para um lado ou outro, porque
acaba cortando a frente dos outros, com risco de quedas, além de prejudicar seu
próprio rendimento, uma vez que acabará fazendo uma distância superior à
aferida pelo evento. Apesar disso, alguns fazem essa "operação",
quando da proximidade de postos de abastecimento, ou para conversar com um
amigo, ou para ser fotografado, ou para sair na TV...
5) NÃO PROCURAR TANGENCIAR AS CURVAS.
Aqui a questão é técnica e se resume a alertar para
que a pessoa corra a distância efetivamente medida, resultado de uma aferição
feita por pessoal gabaritado e que realiza o melhor tangenciamento possível das
curvas, com o objetivo de procurar encontrar a menor distância. Ou seja, quem
corre certo, completa o mesmo trajeto do medidor, enquanto os outros fazem
alguns metros mais.
6) LEVAR GEL PARA UMA PROVA DE 10 KM.
Citamos o gel de carboidrato, mas pode ser um outro suplemento qualquer.
Efetivamente em eventos de curta distância não é necessária qualquer
suplementação, para repor a energia perdida, bastando água e eventualmente o
isotônico fornecido pela organização. Mesmo porque a absorção por parte do
organismo demora algum tempo, daí tal ingestão não fazer qualquer diferença.
7) NÃO PARAR OU REDUZIR AO SENTIR MAL
ESTAR. Correr significa se esforçar para vencer
determinada distância e mesmo que não se trate de uma pessoa competitiva, algum
empenho sempre será necessário. Isso poderá significar algum sofrimento durante
a competição, mas deve-se separar bem o que são dores musculares ou o cansaço
natural, de um mal estar repentino, como tontura, dor no peito, vontade de vomitar.
Nestes casos, não se deve titubear: é parar e ir caminhando, ou pelo menos
reduzir o ritmo. Se tudo voltar ao normal, a corrida continua, caso contrário
procurar ajuda médica o quanto antes.
8) NÃO RELAXAR OMBROS E BRAÇOS. Pode
parecer bobagem esta recomendação, na medida em que o que manda numa corrida
são as pernas (e os pulmões). Mas correr muito tenso é prejudicial para o
rendimento do atleta, daí se indicar que de tempos em tempos o corredor procure
dar uma relaxada nos ombros e braços, e também não fique olhando fixo para
frente, mas aproveitando para trocar idéias com alguém ao lado, vendo a
paisagem, brincando com a platéia (quando existe...).
9) ALONGAR QUANDO SURGEM CÂIBRAS.
O tema não tem unanimidade, até pelo contrário, com muita gente recomendando
que se alongue quando as câibras aparecerem durante uma competição. Mas
fisiologistas e fisioterapeutas comentam que tal atitude nada ou pouco ajuda,
sendo mais producente simplesmente procurar caminhar até as contrações pararem
ou diminuírem. Melhor ainda se a pessoa conseguir aplicar gelo no local.
10) ACABAR A PROVA, PARAR E ALONGAR.
Assim como antes de começar a correr se sugere um prévio aquecimento, para
depois também se indica um desaquecimento, que pode se dar através de caminhada
ou mesmo um trote. Nada de parar imediatamente e começar a alongar. Esta
atitude é perigosa para o sistema cardiorrespiratório porque o coração, que
vinha trabalhando em ritmo acelerado, não muda automaticamente de ritmo ao se
terminar a prova e, dessa forma, acaba bombeando mais sangue do que o corpo
passa a necessitar. E alongar com o corpo muito quente pode levar a um
esticamento exagerado das fibras musculares, com risco até de rompimento. Portanto,
deixe o alongamento para depois de caminhar por uns tempos e se hidratar.
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