Que a corrida é excelente forma de perder peso
e manter a boa forma (além, é claro, de trazer uma boa dose de alegria e
endorfinas para nossas vidas), já está mais que comprovado.
Mas não podemos deixar de lado os cuidados com
a dieta, sob risco de anular os resultados conquistados no dia a dia de
treinos. Apesar de o corpo humano não funcionar como uma calculadora,
normalmente a regra é clara: se gasta mais do que ingere haverá perda de peso:
um déficit de cerca de 7 mil calorias reduzirá cerca de um quilo de peso
corporal. O grande problema está em calcular exatamente quanto é gasto e quanto
é ingerido.
Os componentes da demanda energética são: metabolismo
de repouso (60% a 75%): o mínimo de energia necessária para o corpo continuar
funcionando em suas funções básicas (o que varia de acordo com idade, genética,
sexo, quantidade de massa magra, entre outros fatores); termogênese da
alimentação (10%): energia gasta na digestão de alimentos; e atividade física
(15% a 30%). Do outro lado, a energia consumida é a soma de todas as calorias
fornecidas pelos alimentos que consumimos a cada dia.
Essas calorias são estimadas por métodos
laboratoriais que analisam amostras de cada alimento e formam um verdadeiro
compêndio de composição química dos alimentos.
Mas nem sempre o que é consumido é aproveitado.
Depende da capacidade absortiva de cada indivíduo (que também pode ser
influenciada por vários fatores, entre eles a genética, a velocidade do
trânsito intestinal), o que dificulta saber quanto realmente da energia
consumida foi disponibilizada, e isso começa a dificultar o cálculo, o que
torna a perda de peso um processo não tão matemático. Na luta por perda de peso,
muitos investem em dietas muito restritivas, seja em termos de calorias ou em
relação a determinado nutriente (geralmente o carboidrato) para um processo
mais rápido. Resultado: redução do peso corporal à custa de perda de líquidos!
O estoque de glicogênio muscular acaba, e, como cada 1 g de carboidrato leva
consigo 3 g de água, o falso emagrecimento ocorre.
Exercícios, assim como a corrida, ajudam no
processo de perda de peso não somente pelo aumento do gasto energético, mas
porque também auxiliam no controle de apetite, mantêm a massa magra e melhoram
a distribuição da gordura, contribuindo para a melhora da autoestima e evitando
os ciclos de perda e recuperação de peso.
Mas, quando a corrida é associada à dieta para
perder peso, muito cuidado é necessário! Não é possível fazer restrições nos
nutrientes essenciais para o rendimento esportivo, que comprometerá o sistema
imune. Para evitar isso, não reduza mais que 500 calorias do seu consumo
habitual por dia. Essa redução já é suficiente para redução de gordura
corporal, sem comprometer a massa magra e o sistema imunológico.
Para que todo esse processo seja realmente
efetivo, planeje a alimentação diária e treinos de acordo com a necessidade e
disponibilidade dos alimentos, além das preferências individuais — se possível
com ajuda de profissionais da área. Também consuma calorias suficientes para
suprir a demanda energética da corrida e das atividades cotidianas, com déficit
não maior do que 500 calorias. E inclua metas de mudança de comportamentos inadequados
para a sua saúde, não só alimentares ou de treino, para que seja possível
associar saúde e adotar a qualidade de forma definitiva à sua vida.
Fonte: Lenycia Neri é
Nutricionista , Especialista em fisiologia do exercício, maratonista e sócia da
Nutri4life Consultoria em nutrição.
(Matéria publicada na
Revista O2)