sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Correr ou sair correndo? Entenda a diferença



Por  Portal EF
Especialistas descrevem as ciências envolvidas na corrida e explicam a diferença entre correr e simplesmente “sair correndo”.

Versátil, dinâmica, desafiadora, emocionante e muitos outros adjetivos podem ser aplicados à prática de corrida. O esporte tem conquistado cada vez mais adeptos, embora nem todos os corredores procurem a orientação profissional adequada para dar início à prática da atividade física, podendo colocar a saúde em risco. Além disso, sem técnica, a pessoa não corre, mas “sai correndo”, como brincam os especialistas.

O técnico DPACE, Fabiano Pezzi, gestor da assessoria esportiva Go Runners, de Natal (RN), conta que percebe que as pessoas mais saem correndo o que correm, “pois correr com planejamento bem estabelecido requer trabalho e nem todos estão dispostos a isso”. Ele explica que, em muitos casos, o ato de sair correndo se dá pela falta de condições de investir na orientação de um profissional qualificado e a grande diferença entre correr e sair correndo se dá pela qualificação e paciência do orientador, já que “o treinamento engloba algumas variáveis que poucos se aprofundam: análise do movimento, fortalecimento muscular, métodos de treino de corrida, flexibilidade e o principal no meu cotidiano, a psicologia”.

Correr não é sair correndo
Luiz Fernando Bernardi é técnico responsável pela assessoria esportiva Find Yourself e também do Palmeiras, ambos na capital paulista, e conta que atualmente há cinco milhões de pessoas praticando a corrida no Brasil. Muita gente se sente apta a correr e pensa que é autossuficiente para praticar a atividade física e, por isso, “saem correndo”. “Correr significa buscar um hobby ou uma atividade física orientada. Sair correndo é não ter orientação”, explica. Ele conta ainda que as pessoas saem correndo atrás de ônibus ou fugindo de cão bravo, porque pra ter objetivo, precisa de critério e orientação. Por ser algo natural do ser humano, as pessoas muitas vezes esquecem que é preciso aprender a correr corretamente, com equilíbrio, postura e respiração adequadas, coisa que apenas um profissional habilitado é capaz de ensinar.

Christiano Marques é treinador DPACE e sócio-proprietário da Markes Running+ e diz que as pessoas estão mais preocupadas em se cuidar e correr da forma correta, mas o “sair correndo” ainda está à frente do “correr”. “É preciso saber que existe uma técnica envolvida, posicionamento da postura em geral, respiração, mas é importante destacar que uma pessoa que colocou um short, preparou a playlist e até mesmo o frequencímetro e não se preocupou em fazer um aquecimento, se preparar para aquele treino ou prova, também vai sair correndo e não correr”, salienta.

Pezzi conta que solicita três cuidados iniciais aos seus clientes: respiração sob controle, variável que um relógio frequencímetro pode auxiliar, olhos pra frente ao invés de para o chão e braços ao lado do corpo e não cruzado sobre o tronco. “A partir destes, e não distantes ou menos importantes, obviamente é que me preocuparei com joelhos e tornozelos. Se a pessoa perceber esses três itens, pode mensurar se está correndo ou se sai correndo.”


A importância da orientação na Corrida

Pezzi cita um dado interessante que foi passado pelo professor Julio Serrão em 2010: de cada 10 corredores, 7 se lesionam. Isso acontece pela falta de orientação adequada, que não é feita apenas na forma como se corre, mas também nos “equipamentos” usados para correr. Marques sugere que o aluno pratique exercícios de fortalecimento muscular concomitante à corrida, “mas não precisa se prender às academias. Hoje em dia as assessorias estão com trabalhos ótimos de fortalecimento muscular e esse trabalho de membros inferiores e superiores e tronco, envolvendo os músculos do Core, pode ser feito pela assessoria de corrida”.

A orientação adequada também é essencial para prevenir lesões causadas por “detalhes”, como o tipo de pisada. “Os desequilíbrios musculares podem ter início pela pisada. Eu mesmo, em último tratamento com osteopata/fisioterapeuta, tratei de uma dor na região do dorso das costas, onde a origem do problema era o tornozelo, ou seja, a pisada tem que ser avaliada e considerada na hora da montagem do treino. A escolha do calçado também não necessita ser o mais caro, pois não são eles os diminuidores de impacto, como dizem, e sim os músculos bem treinados e a escolha do terreno pode ter efeitos magníficos para quem inicia seus treinos”, exemplifica.

Para Bernardi, além do risco de se machucar, quem corre sem orientação passa pela modalidade, mas não fica, porque acaba tendo uma experiência ruim. “Correr sem orientação é como se automedicar e o problema não vai aparecer no dia seguinte, mas a longo prazo. As pessoas consultam a internet e acham que sabem o que estão fazendo, mas brinco que não existe receita de bolo, mas sim o tempero para cada treino. Por isso não dá pra prescrever o mesmo treinamento para duas pessoas que começam no mesmo dia. Cada um tem que ter um feedback do treinador, uma medida certa para cada pessoa.”
Mercado de Corrida é promissor, mas...
Requer dedicação do profissional. Pezzi recomenda aos treinadores que tenham uma visão mais humana, integradora e atenta a todos os aspectos do que o professor Fábio Saba costuma citar: o biopsicoafetivo. “O trabalho se difere e trará mais resultados quando os profissionais envolvidos se preocupam além do ‘BIO’ – biológicos = treino -, mas com os aspectos PSICOLÓGICOS, SOCIAIS e AFETIVOS de seus clientes.”

Como são muitos os motivos que levam uma pessoa a procurar a corrida como modalidade esportiva, cabe ao profissional orientá-la da maneira mais eficaz para que ela atinja seus objetivos. Christiano Marques conta que as mulheres costumam procurar a corrida pela estética, embora tenham se preocupado mais em melhorar marcas e adoram o convívio com outros alunos, o “lado social” da corrida; já os homens buscam a modalidade pela performance e o desafio de vencer maratonas, por exemplo. Conhecer essas variedades e saber como atendê-las faz toda a diferença para o profissional de educação física.

Para Luiz Fernando Bernardi, é preciso continuar sempre estudando para se diferenciar no mercado que tem crescimento desordenado e que um mau atendimento pode formar uma ideia errada no aluno, que vai desistir da modalidade. Além disso, o técnico da Find Yourself destaca que o mercado cresce também para os organizadores de eventos esportivos, que estão fazendo as provas virarem verdadeiras baladas, com show, DJ, massagem etc, mudando o foco da corrida. “O cara não quer saber de treinar. Vai lá pra encontrar os amigos, paquerar. A corrida está mudando de alunos performáticos, que buscavam rendimento, para alunos sociais que correm porque é legal e moda. As pessoas estão correndo e passando pela modalidade, sem retenção. Temos que ter alunos longitudinais e não transversais. Não adianta ter 100 alunos se eles giram e não ficam com você.”

http://www.educacaofisica.com.br/

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