E um dos maiores flagelos ao corredor.
Tanto ataca no seio da alta competição como nos mais despreocupados
corredores de pelotão. As suas causas são múltiplas e é importante
estar-se prevenido para a “ dor de burro".
Chama-se “dor de burro” a uma dor aguda e
passageira que se manifesta durante um esforço, no início ou durante o
treino ou competição, dum lado do tronco ou do outro, abaixo da caixa
torácica mas a uma altura variável. Quando
ocasional é muitas vezes benigna, tornando-se crónica implica uma
consulta ao seu médico Mesmo sendo frequente, não há nenhuma causa
direta para a “dor de burro”.
Vários mecanismos são evocados para a explicar e essa multiplicidade de
causas testemunha a nossa ignorância. No entanto, devemos conhecê-Ias
pois cada uma delas intervém de maneira diferente na “dor de burro”.
Muitos consideram-na um espasmo na musculatura respiratória (contracções
violentas e involuntárias do diafragma). Antes de um movimento rápido,
como uma aceleração, os músculos respiratórios devem estar preparados
para um esforço intenso maximal mais ou menos prolongado.
Ritmo respiratório multiplicado por cinco
Quando se está em esforço, o ritmo respiratório acelera e a amplitude dos movimentos da caixa torácica
acentuam-se, o que implica um aumento de consumo de oxigénio dos
músculos respiratórios. O ritmo respiratório aumenta de 10/12
inspirações-expirações por minuto em repouso (ou seja 5 a 8 litros/mn) –
variando com a intensidade do exercício , para 50/60
inspirações-expirações por minuto (ou seja, de 80 a 264 lImn, o número
mais alto encontrado num atleta). Se a respiração é ineficaz (ou seja a
cavar o abdómen), o consumo de oxigénio toma-se insuficiente, o que vai
provocar espasmos na zona do diafragma, o principal músculo
respiratório, causando dor. A favor desta tese está Pierre Mathieu,
médico oficial da delegação francesa aos Jogos Olímpicos há trinta anos.
No entanto, nessa altura, Mathieu deparou-se com um problema: ao passar
a zona em. que os atletas sentiam a “dor de burro”, ele notou um
disfuncionamento nas correias diafragmáticas (o principal músculo
respiratório, o diafragma, forma duas cúpulas que sustêm os dois
pulmões).
Pode-se relacionar a “dor de burro” a uma
contratura devida a certos fluidos do músculo responsável pelo
movimento da respiração, que tem acção dentro da caixa torácica com o
fim de “expulsar” o ar já utilizado.
Este conceito está ligado à “dor de burro”, esquerda ou direita.
Prevenção (Como evitar a dor de burro).
Faça um aquecimento preparatório
suficiente antes do esforço; comer três a quatro horas antes do início
da competição, de forma a que a digestão esteja completa no momento do
esforço; não faça uma última refeição muito pesada, pois produzirá gazes
intestinais que prejudicarão o seu desempenho (feijão, sardas, maçãs,
pão,etc.); beba líquidos moderadamente, mas não prescinda de se hidratar
desde o fim da última refeição e o início do aquecimento para a
competição.
Congestão passageira do fígado
Para outros, a “dor de burro” deve ser
estudada e considerada como uma analogia às manifestações dolorosas do
peritoneu (membrana contentara dos órgãos internos). Este cobre a
superfície do músculo diafragma podendo evitar dores diafragmáticas que
se fazem sentir através da “pontada”. A dor pode resultar de um efeito
de pressão ou de tracção. Um exemplo de pressão pode ser a que um
estômago cheio pode efectuar, pois só excreta o seu conteúdo depois
deste estar digerido. Durante um treino ou competição, a actividade
respiratória aumenta; se a acção do diafragma é insuficiente, essa
tracção ou pressão (estômago cheio) manifestar-se-á com uma intensidade
particular nos sítios da “dor de burro”.
Outros há que acham que os responsáveis
da “dor de burro” são os músculos intercostais. Assim, a “dor de burro”
do lado direito (mais frequente) dever-se-á a uma congestão passageira
do fígado. Um estudo soviético mostrou que durante uma corrida os
atletas se queixam de uma dor na região do fígado, apresentando uma
dilatação, sendo estes casos mais frequentes do que os que não dão “dor
de burro”, ficou igualmente demonstrado que, durante um exercício
intensivo, a passagem de sangue no fígado pode diminuir até 80%, sendo
que esta redução não impede o entupimento do fígado. A “dor de burro” do
lado esquerdo tem o mesmo mecanismo que a do lado direito mas ao nível
do baço.
O Tratamento
Não existem receitas miraculosas. Há, no entanto, manobras que podem evitar o seu aparecimento. Por exemplo:
- diminuir a intensidade do esforço;
- massajar com a mão o sítio onde dói.
Se a dor persistir ou mesmo aumentar,
respire, dando mais amplitude aos movimentos respiratórios, com especial
incidência no movimento expiratório, que deve ser muito activo.
- O alívio, mais ou menos rápido, pode ser obtido através de diferentes truques experimentados por estrelas da estrada:
- Inspirar várias vezes de forma profunda, dando ênfase ao movimento ventral;
- Inclinar-se para trás e carregar fortemente no sítio onde reside a dor, soprando durante o máximo tempo possível;
- Grite fortemente AAAAHH! (relaxa a pressão sobre o músculo diafragmático);
- Pegue num objecto duro, como uma pedra, e aperte-o fortemente;
- Expirar, esperando um pouco sem inspirar;
Flectir o tronco para a frente e para
trás, estendendo o braço suavemente,tocando com os dedos das mãos nos
dedos dos pés (este movimento relaxa instantaneamente os músculos que
accionam a “dor de burro” e distende o diafragma).
Seis pontos de referência
- Aparece unicamente com o esforço;
- É mais frequente do lado direito do que do lado esquerdo (do lado
direito encontra-se o fígado que é o maior órgão da zona do diafragma);
- Principal causa: carência de oxigénio dos músculos respiratórios (diafragma e intercostais);
- A “dor de burro” aparece mais frequentemente em descidas.
Aconselha-se a que, em percursos mais acidentados, se expire sobre o pé
esquerdo;
- Um atleta com os abdominais bem reforçados está menos exposto a este problema;
- Prevenção: evitar comer pouco tempo antes de correr; evitar comer
refeições pesadas (alimentos flatulentos); não fazer uma hidratação
exagerada (beber muita água) e, para finalizar, deve fazer-se um bom
aquecimento
Fonte: Revista Atletismo